É através da ótica dos escritos do filho, Santo Agostinho (Aurelius Augustinus, 13/11/354), especificamente em sua obra-prima "Confissões" (escrita aproximadamente no ano de 397), que Santa Mônica ganha voz e forma de modelo de mãe cristã. A partir dessa obra, arrisca-se traçar que Mônica teria nascido no ano de 331, filha de pais cristãos, que se mantiveram católicos durante o cisma donatista. Foi entregue em casamento a Patrício. Frutos do matrimônio foram seus dois filhos, Agostinho e Navígio, e uma filha cujo nome se ignora. Porém, é conveniente dedicar-se neste momento a atenção da mãe Mônica ao filho Agostinho e do filho Agostinho à mãe Mônica.
Agostinho relata as infidelidades matrimoniais que Mônica enfrentava com paciência e mansidão, não respondendo a Patrício, senão por obras de uma caridade sem limites e pela oração que fazia diariamente. Em 371, a oração e sacrifício por seu marido alcançou de Deus a graça de que Patrício se deixasse batizar antes da morte. Era tamanho o fervor de Mônica que até a sua sogra, mulher que terrivelmente metia-se a atrapalhar o aconchego familiar, recebeu o santo batismo e passou a ver as boas qualidades de sua nora.
Após a morte do marido, a vida de Mônica foi dedicada à conversão do filho Agostinho. Tal empreitada pode ser traduzida em duas palavras: oração e lágrimas. A primeira era o meio de rogar a Deus que desse a seu filho a fé verdadeira; a segunda era o modo de manifestar seu sofrimento em vê-lo no erro. Se sua vida estava escrita pela dor, maior era a persistência de, ainda em vida, ver cumprida sua prece. Era tão forte as suas súplicas que certa vez exclamou-lhe um bispo: “Vá e viva em paz, pois não é possível que pereça um filho de tantas lágrimas” (Confissões 3, 12, 21).
Aconteceu que no ano de 386, Agostinho colocou-se no ápice de um longo e atormentado percurso de mudança de vida. Com o intuito de se preparar para o batismo, transferiu-se para o campo, ao norte de Milão. Assim, aos trinta e dois anos, Agostinho foi batizado pelo bispo Ambrósio a 24 de abril de 387, durante a Vigília Pascal, na Catedral de Milão. Agostinho, agora convertido, dispôs-se a voltar com sua mãe à sua terra.
Foram ao porto de Óstia Tiberina (Roma) esperar o barco que os levariam ao norte da África. Aconteceu que estando aí em uma casa junto ao mar, à noite, ao ver o céu estrelado, conversando com Agostinho sobre como serão as alegrias que teriam no céu, Mônica exclamou entusiasmada: "E a mim, o que mais pode me amarrar à terra? Já obtive meu grande desejo, o ver-te cristão. Tudo o que desejava consegui de Deus" (Confissões 9, 10, 25). Passaram-se uns dias, invadiu-lhe uma febre que em pouco tempo possibilitou-lhe experimentar as sonhadas glórias celestes em 387. A única coisa que pediu a seu filho era que não deixasse de rezar pelo descanso de sua alma.
Obediente ao desejo de sua mãe, Agostinho pede que oremos por ela, e reconhece nela uma "alma piedosa e santa", e completa: "Inspirai, meu Senhor e meu Deus (...) inspirai a todos os que leram estas páginas que se lembrem junto ao altar, de Mônica, Vossa serva, e de Patrício (...). Assim, graças a estas Confissões, o desejo último de minha Mãe, será mais copiosamente cumprido, com as orações de muitos, do que somente com as minhas" (Confissões 9, 13, 37).
Mônica foi sepultada em Óstia. Em 1430, seu corpo foi transladado para Roma e jaz numa Igreja dedicada ao filho Santo Agostinho. No século XII começou-se a celebrar sua memória litúrgica no dia 4 de maio, data esta que a Ordem ainda conserva por razões pastorais. O papa Paulo VI, na reforma do calendário litúrgico de 1968, colocou a festa no dia 27 de agosto, às vésperas da festa de Santo Agostinho, pelo fato da vida de Santa Mônica estar intimamente ligada a do filho.
Milhares de mães e de esposas encomendam-se em todos estes séculos à Santa Mônica, para que as ajude a converter a seus maridos e filhos, e muitas conseguiram conversões admiráveis. Porém, Mônica é santa não por ter realizado qualquer milagre ou por ter sido martirizada, como tantos santos cristãos. Ela é santa por ser mãe. Este atributo não possui redenção nem conflito: ele é a prece atendida, o fervor transmitido. Em sua iconografia, Santa Mônica é representada como uma senhora com olhar triste e mãos unidas em forma de oração. Talvez seja esta a forma que a define: mulher que na dor encontra força no fervor da oração!
Oração a Santa Mônica, advogada das mães cristãs
Ó Santa Mônica, espelho para as esposas, modelo incomparável das mães cristãs, consoladora para as viúvas, mulher admirável, a quem Deus infundiu o espírito de oração e concedeu o dom de lágrimas com que soubestes apresentar-vos ao Deus misericordioso, para que se compadecesse de vossos gemidos, atendesse às vossas lágrimas e súplicas e vos concedesse a realização de vossos desejos! Aos vossos pés vimos hoje pedir que nos alcanceis o espírito de oração que vós tivestes e o pesar que merecem nossas culpas, para que, abrindo com humildade nosso coração ao Deus compassivo, consigamos a graça de viver a vida que vós tivestes na terra e mereçamos a glória que gozais agora no céu. Amém!
Curiosidade:
Piedosa tradição diz que achando-se Santa Mônica desolada com a morte de seu marido e com os desvarios do filho Agostinho, pedia insistentemente à Mãe da Consolação mostrar-lhe o que devia fazer para imitá-la no tempo em que passou sobre a terra. Surpreendentemente, Nossa Senhora apareceu-lhe vestida de preto e usando uma correia de couro. Esta tirou da cintura a correia e ofereceu a Santa Mônica a incumbência de espalhar a devoção da correia, prometendo ter por filhos muito amados todos aqueles que se apresentarem com este sinal. Hoje, a correia é usada pelos frades e monjas como distintivo da pureza e sinal de honra à Rainha do Céu.
Bragança Paulista/SP
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Referências:
AGOSTINHO. Confissões. São Paulo: Paulus, 2008.
CARAZO, Antonio Sánchez. Mônica: a mãe. Rio de Janeiro: Ed. Gávea, 2001.
Santa Mônica, rogai por nós!
ResponderExcluirSanta Mônica, rogai por nós! Amém!
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