A SEGUIR NA ÍNTEGRA O PRIMEIRO DOS BOLETINS INFORMATIVOS
ENVIADOS POR FREI LUIZ ANTÔNIO PINHEIRO.
>>>Foto oficial do Capítulo Geral Intermédio, Manila, Setembro - 2010 |
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>>>>Depois de 27 horas de viagem, intercaladas com dez horas nos aeroportos (Belo Horizonte – São Paulo – Los Angeles – Seul) cheguei a Manila. Tendo saído de BH dia 16 - perde-se um dia ao atravessar a linha divisória do horário internacional, do outro lado do mundo – aqui estamos desde ontem, 18 de setembro. Já ao desembarcar em Manila, antes mesmo de passar pelo controle de imigração e de alfândega, havia um funcionário com uma plaqueta com meu nome, dando as boas-vindas. Feito o controle de passaportes, fui conduzido à sala VIP, onde os professos filipinos faziam o serviço de acolhida. Assim se percebia, desde o início, a boa organização do Capítulo neste outro lado do mundo.
>>>>Ao sair do aeroporto, o calor úmido se fez sentir, junto com o tráfego intenso. As Filipinas são um arquipélago constituído por 7107 ilhas, três grandes e as demais pequenas. Luzón é a ilha onde se encontra Manila, junto com outras onze cidades, num grande aglomerado com aproximadamente doze milhões de habitantes. Depois de duas horas atravessando várias dessas cidades, chegamos ao local onde vai se realizar o Capítulo, no município de Malolos, Província de Bulacan. É um hotel dentro do campus universitário da University Regina Carmeli das Irmãs Agostinianas de Nossa Senhora da Consolação (Sisters of Our Lady of Consolation). O hotel faz parte de um dos cursos da universidade: turismo e hotelaria; assim que o serviço é de primeira.
>>>>Pouco a pouco foram chegando boa parte dos capitulares que vinham diretamente para cá. Outros, que chegaram antes e que estavam alojados em várias comunidades, vieram hoje. Cerca de 40% são conhecidos, de vários encontros, convivência em Santa Mônica, etc.
>>>>Hoje, 19 de setembro, domingo, foi aberto o Capítulo com a Eucaristia solene celebrada no Convento de San Agustín intramuros, presidida pelo Prior Geral, Fr. Robert Prevost. No início da missa o Provincial das Filipinas, Fr. Carlos Morán e o Vicário Regional do Oriente, Fr. William Araña fizeram sua saudação especial aos Capitulares e aos fieis presentes.
>>>>O convento, pertencente ao Vicariato do Oriente, é do séc. XVII, sendo a construção mais antiga da Ordem nas Filipinas. Na verdade, o lugar mais antigo da Ordem é Cebú, onde está o santuário nacional do Santo Niño de Cebú, cuja construção, porém, é posterior.
Um pouco de história
>>>A conquista das Ilhas Filipinas pela coroa da Espanha aconteceu na segunda metade do séc. XVI. O arquipélago tem esse nome em homenagem a Filipe II, rei da Espanha naquele então. Os Agostinianos estão a ela associados sendo os primeiros evangelizadores do Arquipélago, aí destacando-se as figuras de Fr. Martín de Rada e Fr. Andrés de Urdaneta. O comandante da expedição foi Miguel López de Legazpi, que está sepultado na igreja do convento San Agustín de Manila. Quem projetou a missão nos seus detalhes foi o famoso marinheiro, experiente nas viagens marítimas, Fr. Andrés de Urdaneta, que, após sua conversão, entrou para os Agostinianos na Nova Espanha (atual México). O frade marinheiro tornou-se famoso pela descoberta do tornaviaje, ou seja, o caminho de volta, seguro e mais rápido, das Filipinas para a Nova Espanha, começando a 1 de junho e chegando a Acapulco em 30 de outubro de 1565. Depois de uma série de revezes e contendas diplomáticas, acontece a submissão dos naturais e a 24 de maio de 1571 fundava-se a cidade de Manila, iniciando-se assim a colonização das Ilhas e o processo da evangelização, liderado pelos Agostinianos.
>>>>Nos finais do séc. XVI funda-se a Província Agostiniana das Filipinas que, por três séculos teve sua sede em Manila. Com a expulsão dos espanhóis em 1898 e a tomada das Filipinas pelos ingleses e depois, no séc. XX, pelos americanos, a sede é transferida para a Espanha, no Real Colégio de Valladolid. A conjuntura desse episódio e a realização do I Concílio Plenário Latinoamericano em Roma no ano de 1899 é que trouxe os Agostinianos das Filipinas para a América, ocorrendo então o estabelecimento da Ordem no Brasil e na Argentina. Recordemos que em 1885, a Província das Filipinas assumia a regência do Real Monasterio de El Escorial, onde dez anos após se fundava a Provincia Agustiniana del Sagrado Corazón de Jesus de Madrid, de onde procederam os frades que fundaram nosso Vicariato Matritense, os quais chegaram ao Brasil em setembro de 1929.
>>>>A Província das Filipinas, com uma longa tradição missionária, ajudou a reavivar províncias latinoamericanas semi-mortas, como as do Peru, de Quito (Equador) e da Colômbia, além de estabelecer várias missões no Oriente e na África. Em 1983, dela se desmembrou uma nova Província constituída em sua maioria por filipinos: a Provincia Agustiniana del Santo Niño de Cebú.
>>>>Há atualmente nas Filipinas duas circunscrições agostinianas: o Vicariato do Oriente (casas da Província das Filipinas – espanhola) e Província de Cebú (nativa das próprias Filipinas, que conta atualmente com mais de cem frades). As duas circunscrições juntas, têm mais de cem formandos nas diversas etapas formação.
>>>>Em sua homilia, o Padre Geral recordou que em 2008 era celebrado o V Centenário do nascimento de Andrés de Urdaneta, o qual, navegador famoso, depois de anos de guerra, descobriu uma mensagem de mudança de vida no ensinamento de Santo Agostinho: Urdaneta aprendeu que a única resposta ao desejo do coração humano só pode ser encontrada em Deus e no seu amor. Usando a imagem do tornaviaje – “viagem de retorno”, afirmou que o frade marinheiro viveu uma viagem de retorno muito mais importante: a sua conversão e o seu ingresso na vida religiosa agostiniana simobolizam um tipo muito diferente de retorno: o retorno, a conversão a Deus.
>>>>Essa imagem pode ser uma imagem muito apropriada para nós Agostinianos, ao iniciarmos o CGI: também nós somos convidados a realizar uma viagem e a descobrir que o a verdadeira viagem é aquela que conduz a Cristo, como aconteceu com Agostinho. Para nós religiosos consagrados, a viagem é uma existência ao serviço de Cristo, especialmente como comunidade de discípulos, e como Agostinianos o fazemos na e através da vida comum e dos serviços apostólicos. Mas, pode acontecer que, em algum ponto ao longo do caminho, possamos diminuir a marcha, tornando-nos satisfeitos conosco mesmos ou distraídos, até mesmo parar e ficar estagnados na nossa vida espiritual, no nosso caminho espiritual, no nosso trabalho pastoral. O mesmo pode acontecer às nossas comunidades e circunscrições, ao ponto de perderem a força de inspiração e a capacidade de atrair os outros. O entusiasmo pleno de energia, típico dos jovens, pode gradualmente desaparecer e podemos facilmente escorregar na rotina cotidiana, sempre a mesma, que não muda jamais.
>>>>Assim como na experiência do tornaviaje de Urdaneta, podemos, neste momento histórico, retomar a mudança, encontrar uma nova estrada, através da pergunta: queremos manter o que temos, permanecer onde estamos, ou, pelo contrário, queremos escutar o coração inquieto, em atitude orante, estar atentos à Palavra de Deus e também escutar quem procura conosco, e lêem os sinais dos tempos?
>>>>O próprio texto do Evangelho do domingo: “nenhum servo pode servir a dois senhores, porque ou odiará um e amará o outro, ou ainda amará um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (Lc 16, 13), é um convite a esse tornaviaje. Em diferentes contextos da vida religiosa se faz uma considerável reflexão sobre a questão “manutenção ou missão”? Para nós, a pergunta pode ser colocada dessa maneira: estamos simplesmente mantendo as coisas como estão ou o espírito missionário está vivo nos nossos corações?
>>>>Quando pensa em sua compreensão o ministério, o grupo que quer apenas manter, dirá: “Devemos ser fieis ao nosso passado”, enquanto a comunidade com espírito missionário dirá: “devemos ser fieis ao nosso futuro”. Ao medir a sua eficácia, a comunidade interessada na manutenção perguntar-se-á: “Como é financeiramente praticável esse apostolado?” enquanto a comunidade empenhada na missão fará a pergunta: “Como se podem fazer muitos discípulos?”. A comunidade empenhada em manter pensará antes de tudo em como salvar a própria congregação. A comunidade empenhada na missão pensará antes de tudo em como atingir o mundo.
>>>>Ao finalizar sua homilia, o Prior Geral citou Santo Agostinho a propósito do segundo livro do seu comentário ao “Sermão da Montanha”, onde explica a impossibilidade de servir a dois senhores, asseverando que o ódio a Deus, por escolher outro senhor, pode ser a indiferença, dando por suposta a graça de Deus. E esta poderia ser a nossa situação, tendo perdido o entusiasmo inicial, ficamos satisfeitos já com o que estamos fazendo. O Evangelho recorda a todos nós a necessidade de fazer uma escolha radical, uma doação total de nossa vida a Deus e à missão do Evangelho.
>>>>Após a missa, cuja liturgia foi animada pelos mais de cem formandos das diversas etapas, das duas circunscrições, houve um almoço de congraçamento num dos pátios internos do convento, com a presença dos capitulares, das Irmãs agostinianas de varias congregações e leigos/as da Família Agostiniana. A seguir, houve uma visita guiada ao museu Fray Andrés de Urdaneta. Voltamos então, na metade da tarde, ao local da realização do Capítulo, onde todos ficaremos alojados.
No final da tarde, após as instruções sobre a programação e aspectos práticos, concluímos do dia com as Vésperas e o jantar.
Frei Luiz Antonio Pinheiro,osa
Manila, Filipinas
>>>ÁLBUM DE FOTOS<<<
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