No próximo dia 30 de novembro tem início o Ano da Vida Consagrada
conclamado pelo Papa Francisco. Sob o tema Vida
Consagrada na Igreja hoje: Evangelho, profecia e esperança, esse ano almeja
ser um grande convite à renovação. “Um
convite autorizado dirigido a nós com a leveza da confiança, um convite a por a
zero as argumentações institucionais e as justificações pessoais, uma palavra
provocadora que chega a interrogar o nosso viver às vezes entorpecido e
sonolento, vivido muitas vezes à margem do desafio... Um convite que nos
encoraja a mover o espírito para dar razão ao Verbo que habita entre nós, ao
Espírito que cria e que constantemente renova a sua Igreja.”[1]
Por trás de tantas motivações, parece-nos que a grande questão que deverá
nortear nossas reflexões e vivências ao longo desse ano é a da IDENTIDADE da Vida Consagrada. Ora,
para redescobrir nossa identidade é necessário voltar às fontes e, a sua luz,
ler o tempo presente. A Vida Consagrada surgiu como uma resposta profética, num
momento em que o Cristianismo se mostrava demasiadamente distante do Evangelho
de Jesus de Nazaré, acomodado às seguranças do aparato imperial. A fuga
mundi foi uma maneira que muitos homens e mulheres, desejosos de viver a
radicalidade da vocação cristã, encontraram para conformar as suas vidas à do
Mestre Jesus. Não obstante, ao longo dos séculos, sob o sopro do Espírito,
foram surgindo outras tantas formas históricas de vida consagrada: a vida
monástica, a ordem das virgens, os eremitas, as viúvas, os institutos
inteiramente dedicados à contemplação, a vida religiosa apostólica, os
institutos seculares, as sociedades de vida apostólica, as novas expressões de
vida consagrada (cf. VC 5-12).[2]
Nesse ano, a comemoração dos 50 anos de aprovação do Decreto Perfectae Caritatis sobre a conveniente
renovação da Vida Religiosa, do Concílio Vaticano II, é também uma feliz
oportunidade para crescermos nesse autoconhecimento e consequente aggiornamento da Vida Consagrada. O seguimento de Cristo, a fidelidade ao
carisma fundacional, a comunhão eclesial, a atenção aos sinais dos tempos e a
renovação espiritual – princípios outrora postos para a conveniente renovação –
devem ainda hoje provocar-nos a todos. Ademais, como nos aponta o decreto
conciliar, os religiosos fiéis à sua profissão, devem seguir a Cristo como
única coisa necessária, sabendo conciliar a contemplação com o amor apostólico,
cultivando com esforço contínuo a vida de oração, alimentando-se todos os dias
do Pão da Palavra e da Eucaristia.[3]
Oxalá, que esse Ano da Vida Consagrada seja acolhido por todos os
consagrados e consagradas e encontre em nossas comunidades o solo fecundo que
fará germinar as suas sementes e oferecerá à Igreja e ao mundo seus frutos! Que
a alegria do Evangelho que enche o coração e a vida inteira daqueles que se
encontram com Jesus seja cotidianamente testemunhada e celebrada por esses
homens e mulheres! Que a chama da Vida Consagrada que arde em cada um de nós e
nos impulsiona a doar a vida pela Vida brilhe cada vez mais forte e atraia ao
seu calor os que vivem na escuridão de uma vida sem sentido! E que a nossa
vida, consagrada ao Senhor, seja, sobretudo, reflexo fiel da vida Dele que
passou pelo mundo fazendo o bem (cf. At 10,38)!
Frei Tailer Douglas Ferreira
Diadema/SP
[1]
CONGREGAÇÃO PARA OS INTITUTOS DE VIDA CONSAGRADA E AS SOCIEDADES DE VIDA
APOSTÓLICA. Alegrai-vos: carta circular aos consagrados e consagradas. São
Paulo: Paulinas, 2014, p. 7.
[2]
Cf. PAPA JOÃO PAULO II. Vita Consecrata:
sobre a vida consagrada e a sua missão na Igreja e no mundo. 6. ed. São Paulo:
Paulinas, 2009, p. 10-21. (Exortação apostólica pós-sinodal)
[3]
Cf. CONCÍLIO VATICANO II. Perfectae
Caritatis, 1965. Decreto. In. Documentos do Concílio Ecumênico Vaticano II
(1962-1965). São Paulo: Paulus, 1997, p. 277-295.
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